Setor de gastronomia sente impacto da falta de mão de obra no fim de ano e maior restaurante do Brasil é exemplo das dificuldades
Levantamento da Abrabar e Feturismo aponta que atividades de gastronomia e entretenimento estão entre as que mais geram empregos formais pós pandemia. Mesmo assim, vem enfrentando dificuldades para atingir o patamar suficiente de seus quadros de funcionários.
A falta de mão de obra qualificada e mesmo engajada com as atividades laborais se tornou um grande obstáculo para o setor de gastronomia e entretenimento, um dos que mais gera emprego no país no pós-pandemia segundo levantamento da Abrabar e da Feturismo. Existe um percentual considerável de ociosidade de vagas que estão há meses desocupadas e não são preenchidas nem com mutirão de empregos. A mão de obra estrangeira tem socorrido o setor.
Uma das dificuldades hoje em dia é encontrar mão de obra engajada e comprometida, especialmente em trabalhar de forma operacional nos fins de semana e feriados. Uma recente decisão do Governo Federal vai estimular ou aumentar a existência destas barreiras, criando empecilho para outras atividades econômicas, na liberdade de trabalhar nestas datas especiais para o setor do turismo, que tem alto fluxo nas festas e confraternizações de fim de ano.
Um dos maiores estabelecimentos gastronomia da América Latina e um dos mais tradicionais de Curitiba e do Brasil, o Família Madalosso, sente literalmente a dificuldade na carne e lançou mão de missões de recrutamento em outros estados e inclusive um mutirão de emprego, nesta quinta-feira (16). Para se ter uma ideia, até a metade da tarde, apenas três candidatos demonstraram interesse nas 40 vagas abertas em diferentes funções.
Esta situação vem desde o ano passado, explica Mariana Madalosso, gestora no Família Madalosso. “Mas percebemos que este ano agravou imensamente. Criamos internamente algumas alternativas para conseguir cumprir e preencher todas essas vagas em parcerias com órgãos públicos, programas internos onde o funcionário que indica outro ganha uma premiação, mas temos sentido que nada surge efeito”, revelou a empresária executiva.
O grupo até criou um programa de captação externa de mão de obra, colocando equipes em determinadas regiões do Brasil e em países com questões humanitárias, com enfrentam dificuldades de emprego, mesmo assim esta situação de falta de candidatos persiste. “É algo muito preocupante. Estamos vivendo um apagão de mão de obra produtiva e não estamos enxergando nenhuma luz no final do túnel, ou solução de imediato e longo prazo”, revelou.
Só segunda a sexta
O empresário Marcio Brasil, conhecido por Marcinho do Zapata, do Grupo Zapata e Essen Bier Garden, diz que a maioria dos trabalhadores preferem dar expediente nos cinco dias da semana. “O pessoal do nosso segmento está optando por trabalho de segunda à sexta e nosso caso, que é restaurante, pessoal não quer trabalhar mais sábado, domingo, feriado e também a noite. Então, a dificuldade é grande e estamos na reta final de ano e vai ser bem complicado este momento”, disse.
As buscas por mão de obra começaram no início do ano, revelou Martinho, mas esta dificuldade persiste e agravou. “Antes, até usávamos free lance/taxa, hoje estamos com dificuldade até de contratar free lance/taxa”, completou. Na avaliação de Fábio Aguayo, presidente da Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) e diretor da Federação Paranaense de Turismo, esta é uma questão que está ocorrendo em todo o país, mas que no Paraná virou um fenômeno.
“O que temos visto é que estamos com a economia meio cambaleando porque não tem segurança na expectativa de futuro. Mas uma coisa é certa, os empresários estão investindo, fazendo surgir oportunidades de empregos”. O setor, segundo ele, não conseguiu fechar todo o quadro de funcionários, principalmente depois da pandemia, em encontrar mão de obra qualificada, engajada e que queira trabalhar nas atividades que mais emprego tem gerado nos últimos anos.
“Muitos empresários não conseguem fechar os quadros de funcionários, temos visto colegas fazendo mutirão. Nós já fizemos mutirão. Importante que tenha gente que queira trabalhar”, destacou. Aguayo lembra que várias regiões do estado estão com pleno emprego, em Curitiba está semelhante. “Só que sentimos que as pessoas não querem trabalhar em fins de semana e feriado”.
Obstáculo
Uma medida recente do governo federal, na avaliação do presidente da Abrabar, vai agravar ainda mais este cenário de desinteresse da mão de obra em trabalhar, especialmente na gastronomia. “Esta decisão vai fazer um retrocesso, querendo obrigar negociação salarial, convenção coletiva para trabalhar sábado e domingo, desestimula os empresários. O setor de turismo está fora desta portaria, mas outras atividades como a hotelaria, dependem disto”, frisou.
“Temos que incentivar as pessoas a buscar emprego formal, ter CLT, carteira assinada, ter seguridade social, que é mais importante hoje, não só pela segurança financeira, mas jurídica do empresário do setor. Nós não estamos mais ensinando as pessoas a pescarem, e sim dando mais peixes que as oportunidades”, completou Fábio Aguayo.
Foto legenda (Madalosso)
O maior restaurante do Brasil não tem conseguido fechar seu quadro de funcionários e prevê dificuldades para o final do ano.
Foto: Divulgação/Madalosso